O evento AMOTARA – “Olhares das Mulheres Indígenas”, organizado pela professora Joana Brandão, do Instituto de Humanidades, Artes e Ciências do Campus Paulo Freire (IHAC/CPF), tem por objetivo realizar uma mostra audiovisual na UFSB com foco na produção de mulheres indígenas brasileiras. A programação envolve exibição de filmes e debates com a presença de realizadoras de diferentes etnias.
As atividades ocorrerão de 30 de julho a 4 de agosto em três localidades do Extremo Sul baiano: Caravelas, na sede do Movimento Cultural Arte Manha, grupo que trabalha com cultura afro-indígena há mais de vinte anos; campi da UFSB Paulo Freire (Teixeira de Freitas/BA) e Sosígenes Costa (Porto Seguro); Centro Cultural de Porto Seguro e Aldeia Indígena Jaqueira (Porto Seguro). A comunidade
acadêmica e o público externo estão convidados para as atividades, que são gratuitas.
Os principais temas da Mostra têm relação com a vivência artística e biográfica das artistas, trajetórias coletivas e individuais na produção audiovisual, representação de sujeitos indígenas no cinema indígena/não-indígena, gênero, arte e populações indígenas, cinema e garantia de direitos indígenas.
A professora Joana Brandão conta que o evento integra sua pesquisa de doutorado no Programa de Pós-Graduação em Estudos Interdisciplinares sobre Mulheres, Gênero e Feminismo (PPGNEIM) da UFBA.
A ideia é permitir aos(às) participantes “pensar a arte com um recorte de gênero e intercultural pois, de forma geral, nossas referências imagéticas ainda são muito centradas na narrativa hegemônica da cultura euroamericana (cinema de Hollywood, Netflix, etc) e pouco sabemos das culturas indígenas contemporâneas do Brasil, suas histórias, sujeitos e paisagens”.
A docente complementa, afirmando que, “de forma geral, o audiovisual indígena permite visibilizar perspectivas historicamente invisibilizadas destes povos, recontar narrativas imagéticas, desconstruindo estereótipos.”
Ainda de acordo com a professora, a linguagem audiovisual tem sido utilizada como “meio de manutenção de memória, ao registrar tradições, diálogo interétnico e fortalecimento político, ao abordar questões de interesse de diversas etnias no processo de contato e luta por direitos com a sociedade não-indígena.”
Uma das principais pautas das comunidades indígenas no Brasil é a questão da terra. A jornalista, cineasta e ativista Olinda Muniz, Pataxó Hãhãhãe, uma das cineastas convidadas da Mostra, salienta a importância de apropriação dos meios de comunicação pelos indígenas de modo contra-hegemônico. Ela acusa a mídia tradicional, que “sempre manchou a imagem do indígena como informações falsas e com o viés do conquistador. Eles sempre arrumam um jeito falacioso de passar uma imagem negativos dos indígenas, desqualificando nossa luta.”
A cineasta destaca o papel das mulheres na denúncia contra genocídios praticados contra muitas comunidades indígenas no Brasil e realça seu esforço para darem voz a muitos personagens que desenvolvem trabalhos importantes nas aldeias, “mostrando para os mais jovens que também temos nossos protagonistas.”