Episódios recentes como as enchentes do mês de dezembro no sul da Bahia e as manchas de petróleo em toda a região Nordeste, em 2020, expuseram a necessidade urgente de a população estar mais atenta às águas de nossa região. Um importante instrumento para avaliar a “saúde” de nossos rios e do oceano é a criação de estações de análise que forneçam dados sobre o que está acontecendo com os rios, estuários e a zona marinha, em tempo real.
Uma oficina experimental será instalada no campus da UFSB em Porto Seguro este ano para montar sensores eletrônicos capazes de monitorar a qualidade da água das bacias hidrográficas da região de Porto Seguro. Com esses sensores, o projeto EcoIoT criará uma rede de monitoramento via Internet das Coisas.
A tecnologia utilizada tem o potencial de baratear fortemente os custos desse tipo de ferramenta para o monitoramento ambiental, segundo explica o coordenador do projeto, o professor Marcos Bernardes. “Uma das grandes vantagens do nosso projeto é que ele conta com instrumentação de baixo custo e, portanto, isso pode ampliar em termos de abrangência, de escala, de cobertura as áreas de interesse”, explica o oceanógrafo. “Existem equipamentos similares, mas que normalmente vão utilizar sistemas comerciais que são pelo menos dez vezes mais caros, dependendo do tipo de parâmetro, de variável que coletam.”
Desde 2018, Bernardes atua como presidente do Conselho da Bacia Hidrográfica dos Rios dos Frades, Buranhém e Santo Antônio. Após as cheias de dezembro, o conselho emitiu nota conjunta em que alertava: “Ainda que [as fortes chuvas] sejam situações que perdurem por alguns dias, suas consequências serão sentidas por muito mais tempo, agravando ainda mais as desigualdades socioeconômicas, além de representarem um desafio adicional para nos adaptarmos às mudanças climáticas. Ao tempo em que nos colocamos à disposição para mitigar os efeitos de curto prazo, reiteramos nosso clamor pela implementação de instrumentos de gestão das águas no sul e extremo sul da Bahia”.
Iniciativa multidisciplinar
O projeto EcoIoT reúne professores e alunos da UFSB, e a proposta surgiu a partir de um trabalho científico sobre sensores eletrônicos de baixo custo para monitoramento ambiental conduzida pelo pesquisador Felipe Diego de Oliveira, profissional da área de Tecnologia da Informação que se tornou mestre em Ciências e Tecnologias Ambientais pela universidade, e é também membro da equipe técnica. Oliveira foi orientado pelo bioquímico Orlando Jorquera, outro dos responsáveis pelo EcoIoT. “O projeto tem uma interface muito direta com a gestão pública e com a ciência cidadã, de modo que as pessoas possam contribuir com informações e dados sobre o que acontece nas regiões de interesse”, explica Bernardes.
“A rede visa criar uma solução de monitoramento de parâmetros físico-quimicos de ambientes aquáticos, de baixo custo, pois utiliza dispositivos open-source e de fácil acesso, baseados nas tecnologias compatíveis com Arduino”, explica Oliveira. Arduino é o nome comercial de uma série de placas eletrônicas que servem como base para construir dispositivos digitais e interativos. Por utilizar os chamados “programas livres” (ou seja, de código aberto – open-source) e permitir a montagem de dispositivos pelos próprios usuários, o seu uso viabiliza custos mais baixos.