O cultivo de café conilon tem crescido no extremo sul baiano. Por outro lado, o gargalo da mão de obra, sentida há muitos anos na região, foi o grande desafio da última safra. A colheita começou com atraso em algumas áreas devido a dificuldade de encontrar mão de obra.
Esse é um cenário já conhecido pelo produtor de conilon e que vem se agravando nos últimos anos, que além de mais cara, também está escassa no extremo sul baiano. Neste sentido, há alguns anos o produtor vem fazendo pesquisas e testes para tentar mecanizar a colheita em toda área. Na safra 2022, os resultados foram satisfatórios em algumas áreas onde o trabalho foi realizado com máquinas utilizadas normalmente em áreas de arábica. As pesquisas e os testes devem seguir na próxima safra, mas, pela primeira vez, mostraram um cenário mais otimista para alguns produtores.
“Tem mais ou menos uns 15 anos que já vem sendo testadas algumas colhedeiras de café, mas sem sucesso na regulagem da máquina. O conilon tem características muito diferentes do arábica e até então não havia tido sucesso, desfolhava muito a lavoura, mas neste ano uma das máquinas mostrou comportamento interessante”, afirma José Carlos Gava Ferrão, produtor de café, engenheiro agrônomo e consultor em café.
Segundo Ferrão, neste primeiro momento foi observado que alguns produtores conseguiram colher sem danificar muito a planta, mas ressalta que a mecanização não é possível para todas as variedades, sendo mais favorável para alguns clones que se “soltam” mais fácil da rama, enquanto outras variedades apresentaram resistência.
“Os testes continuam. Para alguns deu certo. No caso do conilon, tem as questões de espaçamento, número de haste, precisa de alguns ajustes. Se mostrou mais qualificada quando tinha um ramo ortotrópico por planta. Quando se tinha mais, caía mais café no chão ou ficava mais café no pé”, afirma.
A safra de 2022 mostrou também que, para que o produtor tenha um bom resultado, é interessante que se tenha uma maturação de grãos mais uniforme. “As primeiras observações é que alguns ajustes serão feitos nas máquinas, o produtor vai ter que passar duas vezes com a máquina na mesma área”, comenta.
Também foi observado um volume expressivo de café no chão após a passagem da máquina, o que pode trazer mais uma mudança na rotina do cafeicultor. “Embora não seja prática do café conilon, muito provavelmente vamos ter que começar a adotar a prática de recolher esse café no chão também”, afirma o engenheiro agrônomo.
Os resultados são positivos e, mesmo após 15 anos de testes, Ferrão reconhece que o processo de mecanização será lento e ainda não é para todo produtor. Alguns ajustes, como espaçamento das lavouras, também poderão ser necessários. “Processo bastante promissor, mas lento. Para se popularizar vai levar anos. Talvez para os grandes aconteça primeiro por conta do investimento, mas ainda precisa de muitos ajustes. Fato é que, depois de 15 anos, essa máquina mostrou melhor desempenho”.