Imagina uma vaca leiteira em meio a um rebanho com muitas outras vacas. Em certo momento, ela se sente abatida, com falta de apetite, exausta e com sua produção de leite diminuindo a cada dia. Quando o proprietário do rebanho percebe os sintomas deste animal em específico, o estágio da sua doença já está tão avançado que seu tratamento se torna impossível e caro. Perde-se uma vaca e gera-se o alto custo de adquirir uma nova.
Se os problemas tivessem sido descobertos logo na manifestação dos primeiros sintomas que a vaca vinha demonstrando, as chances de realizar o tratamento e evitado essa perda seriam muito maiores. Mas como perceber pequenos sinais em meio a dezenas, centenas ou milhares de vacas?
Parece uma missão impossível, mas foi com o objetivo de ouvir os sentimentos e “opinião da vaca” que a agritech gaúcha COWMED desenvolveu uma coleira com Inteligência Artificial que “traduz” o que o animal quer dizer.
Através do monitoramento 24 horas e em tempo real, o pecuarista acompanha pelo celular, tablet ou computador, o tempo de descanso, atividade der alimentação, ritmo de respiração e até o período de ruminação dos animais.
Com esses dados na palma da mão, é possível detectar alteralções de saúde precocemente, acompanhar o ciclo reprodutivo da vaca e monitorar os picos de consumo de alimentos.
Quem fez as vacas falarem?
Se hoje a startup de Santa Maria (RS), fundada pelos irmãos Leonardo Guedes e Thiago Martins é sólida e tem alto potencial de crescimento, tudo se deve a uma história surgida em família. O pai dos fundadores é professor na UFSM (Universidade Federal de Santa Maria). Após viagens internacionais, o docente trouxe para o Brasil novas ideias para o desenvolvimento de tecnologias na produção leiteira.
E foi em 2009, no grupo de pesquisa do próprio pai, que os irmãos tiveram a ideia inicial para o projeto. Sem nunca ter tocado em uma vaca e conhecendo o leite só pelas caixinhas no supermercado, eles aproveitaram o início da tecnologia de precisão na pecuária, que ocorreu entre 2009 e 2010, para iniciar o monitoramento de animais. “A gente entendeu que era uma oportunidade de fazer com que a opinião e o bem-estar da vaca fossem consideráveis. Mudar o conceito de que a opinião do produtor é mais importante que a da vaca”, conta Leonardo.
Afinal, como a coleira funciona na prática?
A vaca é um ser biológico, que tem desejos e vontades. Com esse pensamento, os irmãos desenvolveram a coleira para dar protagonismo para o animal. Conforme Thiago, o colar é capaz de monitorar variáveis, como tempo de ruminação, tempo que a vaca leva comendo, tempo de descanso, tempo de caminhada, qualidade da respiração, entre outros. “Com esses dados, é possível utilizar a inteligência artificial para interpretar a opinião da vaca e gerar recomendações para o produtor”, explica o engenheiro.
O sistema também é aliado para o acompanhamento do ciclo reprodutivo do animal, uma vez que a coleira capta os comportamentos e o app emite alertas de cio, momento certo para a inseminação e hora do parto. Em relação à saúde do animal, a inteligência artificial é capaz de identificar se a vaca vai ficar doente com até cinco dias de antecedência. “A olho nu, existem sinais clínicos imperceptíveis, porque o bovino, por ser uma presa, tem a característica de esconder a doença. Com o sistema, é possível analisar os sinais e fazer o diagnóstico precoce”, destaca.
A coleira também é capaz de apontar quais são os horários que a vaca gosta de comer e o quanto ela consome. Com isso, é possível adaptar o manejo nutricional conforme o que o animal deseja. Além disso, a inteligência ainda consegue avaliar o conforto e bem-estar da vaca, pois o sistema aponta quais horários ela está com maior nível de estresse térmico, permitindo o ajuste dos horários de banho e ventilação. Também é possível avaliar se ela gosta da cama, se precisa de troca, entre outras variáveis. “Com toda essa solução, você consegue fazer a produção subir de 15 a 20%, simplesmente atendendo o que as vacas precisam”, acrescenta.